Como alternativas à produção de materiais na construção civil, caracterizada por altos gastos energéticos e altos índices de poluentes lançados na atmosfera, a reciclagem e o reuso de materiais e estruturas têm se tornado cada vez mais comuns na arquitetura. A principal diferença entre esses métodos é que, enquanto o primeiro emprega certo gasto energético no tratamento do material antes do seu reaproveitamento, o segundo não requer esse processo, reutilizando-o na forma em que foi descartado.
Apesar do maior gasto energético empreendido na reciclagem, quando comparada à reutilização de materiais, o processo de tratamento dos resíduos na reciclagem pode apresentar bom custo-benefício frente ao uso de materiais usuais e até mesmo um menor gasto energético frente à produção primária. No processo de asfaltamento tradicional, por exemplo, são necessárias temperaturas elevadas para fundir os materiais, enquanto no método que faz uso do plástico reciclado, essas temperaturas são reduzidas. Segundo uma experiência em Vancouver, o consumo de combustível é reduzido em 20% durante a elaboração da mistura.
Alguns resíduos de construção e demolição (RCDs) podem ser reciclados quando não apresentam toxicidade para o ser humano e para o ambiente. Nesses casos, o material precisa ser selecionados e triturados antes de ser aplicado em novos usos.
Além dos próprios resíduos construtivos, materiais mais comuns, cuja função inicial não é ligada diretamente à construção de edifícios, mobiliários ou equipamentos urbanos, como pneus ou embalagens descartáveis, também têm sido reciclados e inseridos nesses novos contextos com resultados satisfatórios.
A seguir, apresentamos algumas das diferentes escalas em que os materiais reciclados podem ser aplicados na arquitetura e nas cidades em 8 exemplos práticos:
Vedação
Como alternativa para paredes convencionais, tijolos produzidos a partir da reciclagem de borracha e plásticos podem apresentar uma diminuição de custo significativa em uma construção, além de uma economia de tempo, quando são pensados para ser erguidos a partir de encaixes. Os tijolos reciclados têm sido adotados, por exemplo, em habitações de interesse social e abrigos emergenciais de caráter mais duradouro.
Pintura
Um exemplo da reciclagem de materiais para produção de tintas é a partir do poliestireno expandido (EPS ou isopor, como é chamado popularmente). Utilizado em edificações sobretudo para controle acústico, o EPS (em forma de resíduo) tem sido usado como base para tintas desenvolvidas pela empresa Idea-Tec. Para saber mais sobre esse processo, veja este artigo publicado no ArchDaily.
Estrutura
É possível reciclar RCDs para compor matéria prima de novas estruturas, como pode acontecer, por exemplo, com o concreto. Na sua reciclagem, o material passa por uma etapa de trituração para que os fragmentos sejam classificados de acordo com o tamanho, e, em seguida, reaproveitados. Os fragmentos do concreto reciclado podem ser utilizados como agregado graúdo em novas misturas, ou como componentes de gabiões.
Coberturas
Uma das principais preocupações no projeto e execução de uma cobertura é o seu isolamento, além da sua resistência e durabilidade. A impermeabilização de lajes à base de pneus reciclados demonstra que é possível cumprir os requisitos esperados na composição de coberturas com o uso de material reciclado, além de apresentar bom custo-benefício. Outras opções são as telhas de tetra pak e telhas de plástico reciclado.
Pavilhões e instalações temporárias
A reciclagem de materiais tem sido abordada de diferentes formas por eventos internacionais, exposições e intervenções urbanas. Neste contexto, a presença de pavilhões e instalações temporárias podem funcionar como uma “amostra” das possibilidades de uma infinidade de materiais reciclados e formas que podem ser aplicados, a partir da pesquisa e experimentação.
Mobiliário Urbano
A reciclagem de materiais para uso em mobiliários urbanos pode ser uma maneira de engajar a população na coleta seletiva e integrá-la a projetos urbanos. O Zero Waste Lab, por exemplo, é uma iniciativa de pesquisa que permite que os habitantes possam transformar lixo plástico em mobiliário urbano através da impressão 3D. Segundo a iniciativa, “os indivíduos são livres para moldar seus projetos e criar peças exclusivas que sejam mais adequadas às suas necessidades”.
Parques infantis
Materiais emborrachados ou macios são os mais indicados para playgrounds e parques infantis. Por isso, a reciclagem de pneus e outros materiais emborrachados pode ser uma boa solução para estes locais. Além do uso na pavimentação, materiais reciclados e ressignificados ganham um caráter lúdico nos parques infantis, exercitando a imaginação e criatividade das crianças com as novas funções possíveis para aqueles materiais.
Pavimentação
Testes com embalagens, garrafas e outros produtos provenientes do plástico têm demonstrado a possibilidade de empregá-los, após reciclagem, na pavimentação de ruas e ciclovias. No processo de asfaltamento usual são necessárias temperaturas elevadas para fundir os materiais, enquanto no processo que faz uso do plástico reciclado, essas temperaturas são reduzidas, o que significa uma economia no gasto energético. Conheça mais sobre as vantagens do plástico reciclado para pavimentação aqui.
Este artigo é parte do Tópico do ArchDaily: Reciclagem de Materiais. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos mensais aqui. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.